Conexão CBIC debate desafios pós-COP30 e aponta caminhos para uma construção mais sustentável 

O futuro da construção sustentável esteve no centro das discussões desta terça-feira (2), durante o Conexão CBIC, realizado em Brasília. No segundo painel do evento, especialistas do setor público, privado e de organizações internacionais debateram os principais resultados da COP30, as tendências para a descarbonização e os desafios que se impõem às cidades brasileiras, especialmente em habitação, infraestrutura e formação profissional. 

Organizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o encontro reuniu lideranças que analisaram como o setor poderá avançar em eficiência, sustentabilidade e inovação a partir dos compromissos firmados no contexto global. 

O presidente da CBIC, Renato Correia, destacou que o setor da construção está preparado para dar passos mais rápidos rumo a práticas sustentáveis, mas precisa fortalecer a cultura da implementação. “A CBIC tem 68 anos de existência. O setor emprega mais de 3 milhões de pessoas e movimenta 97 outros setores. Vivenciar esse momento na COP30 foi muito rico para discutir o que já funciona e como colocar isso em prática de forma eficiente”, afirmou. 

Ele lembrou que as empresas dominam tecnologias e métodos sustentáveis, mas que ainda é necessário incorporá-los com mais velocidade, especialmente no planejamento urbano. “Nós sabemos o que fazer. A tecnologia existe. O desafio é incorporar a cultura de que é necessário fazer, e fazer mais rápido. Os planos diretores são uma grande oportunidade”, disse. 

Brasil na COP30: desafios e responsabilidades no centro do debate

A líder de Estratégia e Sustentabilidade da Deloitte Brasil, Maria Emília Peres, ressaltou que a COP30 trouxe à tona temas ainda pouco debatidos, reforçando a urgência de planejamento estruturado e de coordenação entre setor público e privado. “Falta planejamento estratégico. Precisamos articular setores, entender gargalos e assentar discussões localmente. Temos investimento disponível, precisamos orquestrar. É uma oportunidade para acelerar”, afirmou. 

Segundo ela, o Brasil tem desafios urgentes em formação profissional, apontando o déficit global de eletricistas como exemplo de barreira concreta à transição energética. “Se eu não formar eletricistas, não consigo avançar. A tecnologia existe, mas é preciso priorizar e qualificar pessoas”, disse. 

Maria Emília também destacou a necessidade de pensar políticas públicas a partir das vocações regionais e da aptidão socioeconômica das cidades, citando a China como referência de planejamento integrado. “Avançamos em habitação, saneamento e construção, mas o gap ainda é grande. Precisamos ordenar, priorizar e planejar com visão estratégica e regionalizada.” 

O secretário nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Aloísio Melo, fez um balanço da COP30 e enfatizou o papel do Brasil ao sediar a conferência.  “O Brasil tem uma tarefa clara. No perfil de emissões, o primeiro bloco é o desmatamento. Precisamos inverter esse sinal e transformar o uso da terra em removedor líquido de carbono”, explicou. 

Melo reforçou que os setores econômicos deverão incorporar inovação e eficiência no uso de energia, além de adotar tecnologias menos intensivas em carbono. “O desafio é olhar o ciclo de vida completo dos produtos. Queremos um PIB que cresça, mas com menor intensidade de emissões”, disse. 

O presidente da Schneider Electric para a América do Sul, Rafael Segrera, ressaltou que o gargalo da construção sustentável no Brasil está menos na tecnologia e mais na formação de profissionais. “O problema não é a tecnologia, é a falta de pessoas capacitadas. Todo mundo quer energia limpa, mas é preciso ter competências para implementar”, afirmou. 

Segundo ele, a capacidade de inovar será determinante para a competitividade do setor. “Quem adota tecnologia, quem faz dela um parceiro, sai na frente. Obras mais eficientes e materiais de alta performance aumentam a competitividade.”  

O vice-presidente de Public Affairs da Saint-Gobain, Gustavo Siqueira, reforçou que a construção sustentável precisa ser compreendida não só como escolha econômica, mas como uma questão de sociedade. “O material pode custar 10% ou 15% a mais, mas o payback vem rápido, por exemplo, na economia de energia. A sustentabilidade não é só custo, é circularidade, é redução de emissões”, disse.  

Siqueira citou ainda o fechamento de uma fábrica da empresa após enchente. “Se a sustentabilidade tivesse sido considerada décadas atrás, a fábrica não teria sido construída onde foi. Planejar é essencial.”  

Habitação como eixo da transformação sustentável das cidades 

A vice-presidente de Habitação da Caixa Econômica Federal, Inês Magalhães, apontou que a habitação tem papel central na transição sustentável das cidades. “As cidades são o campo de batalha, e a habitação tem papel fundamental. Ela induz crescimento e demanda mobilidade, infraestrutura e serviços”, afirmou. 

Ela também destacou que muitos municípios brasileiros não têm capacidade institucional ou arrecadatória para implementar políticas de sustentabilidade. “Transformamos municípios em entes que têm dificuldade de se sustentar. Precisamos capacitar, porque tudo acontece no município, o uso do solo, a expansão urbana, os serviços essenciais”, destacou. 

Inês ressaltou ainda a estratégia da Caixa de empoderar o comprador, estimulando a oferta de empreendimentos certificados e mais eficientes. “Mais do que beneficiar quem produz, queremos beneficiar quem compra. É preciso assegurar que as famílias acessem empreendimentos melhores”, afirmou.  

Iniciativa da CBIC, o Conexão CBIC 2025 tem correalização do SESI e SENAI; patrocínio oficial da Caixa Econômica e Governo Federal; patrocínio institucional do Sienge e sistema Confea, Crea, Mútua; patrocínio ouro da Saint-Gobain; patrocínio prata da Atlas Schindler; e patrocínio bronze da Senior, Impacto Protensão e Konstroi. 

 

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