A escassez de mão de obra qualificada na construção industrial tem sido um dos principais entraves para a competitividade do setor no Brasil. O tema foi amplamente discutido durante a Reunião Nacional da Construção Industrial, realizada no dia 12 de março, com a participação de empresários, especialistas e representantes de entidades.
O vice-presidente da Comissão de Obras Industriais e Corporativas (COIC) da CBIC, Ilso Oliveira, abriu o encontro destacando a gravidade do problema. “A falta de trabalhadores qualificados afeta toda a indústria da construção, seja em obras públicas, habitação de interesse social ou grandes empreendimentos industriais. É um problema estrutural que precisa ser enfrentado de forma coletiva”, afirmou. Segundo ele, a dificuldade de encontrar profissionais capacitados tem impactado prazos, custos e a qualidade das obras.
O vice-presidente da Comissão de Política de Relações Trabalhistas (CPRT) da CBIC, Ricardo Michelon, ressaltou que a escassez de mão de obra não é um problema recente, mas que se intensificou nos últimos anos. “Esse tema sempre esteve no nosso radar, mas em 2024 decidimos aprofundar a análise por meio de pesquisas com mais de 2 mil profissionais da construção em todo o país. O que percebemos é que há uma grande diversidade de opiniões, mas sem um diagnóstico estruturado. Nosso objetivo foi organizar esses dados para, agora em 2025, transformar conhecimento em ação”, explicou.
Michelon enfatizou que o desafio é complexo e exige soluções de longo prazo. “Muitas vezes tentamos simplificar o problema, atribuindo-o apenas a questões como programas sociais ou à falta de interesse dos jovens pelo setor. Mas a verdade é que a escassez de trabalhadores qualificados é global e multissetorial. Precisamos de estratégias concretas para atrair e reter talentos”, destacou.
Entre as diretrizes definidas pela CBIC para 2025, ele apontou três eixos principais: industrialização do setor, atração e capacitação de trabalhadores e valorização da construção na sociedade. “A construção civil precisa se comunicar melhor. Nossa pesquisa mostrou que a motivação para atuar no setor aumenta conforme as pessoas conhecem melhor suas oportunidades”, acrescentou.
Outro ponto levantado foi a necessidade de enfrentar a informalidade. “Hoje, o trabalho informal já ultrapassa o formal no setor. Isso impacta diretamente a capacitação dos profissionais e a qualidade das obras. Precisamos discutir mecanismos que incentivem a formalização e a valorização dos trabalhadores”, completou Michelon.
Projeto Capacitar: qualificação como solução
Uma das iniciativas destacadas na reunião foi o Projeto Capacitar, uma parceria entre a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e o SENAI-MG. A coordenadora de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Milplan, Joseane Fernandes, explicou que o programa surgiu em 2021 com o objetivo de fortalecer a capacitação de trabalhadores operacionais nos canteiros de obras.
“A ideia é mitigar a escassez de profissionais qualificados e garantir que as empresas possam crescer de forma sustentável. O Capacitar busca preparar mão de obra para cargos como serventes, ajudantes e oficiais, priorizando trabalhadores locais e reduzindo a necessidade de deslocamento de profissionais entre regiões”, afirmou Joseane.
Ela destacou ainda os benefícios sociais da iniciativa. “O programa é totalmente gratuito e ajuda a gerar mais oportunidades para as comunidades próximas às obras. Além disso, permite que trabalhadores com experiência prática se qualifiquem e tenham mais chances de crescimento na carreira”, disse. Segundo Joseane, a capacitação é um dos caminhos mais eficazes para reduzir a falta de profissionais no setor.
A apresentação sobre o projeto pode ser conferida na íntegra clicando aqui.
Soluções empresariais e a importância da retenção de talentos
O superintendente de negócios da HTB Engenharia e Construção, Luiz Fernando, trouxe a visão das empresas sobre os desafios do setor e destacou a necessidade de reter trabalhadores qualificados. “O envelhecimento da mão de obra e a baixa atratividade do setor são problemas sérios. Em muitas localidades, o custo do deslocamento e da estadia dos trabalhadores tem sido um grande obstáculo para a execução das obras”, afirmou.
Para enfrentar essa dificuldade, Luiz Fernando ressaltou que a HTB tem investido em soluções como a industrialização e a mecanização dos processos. “Temos buscado minimizar a necessidade de mão de obra nos canteiros por meio da construção modular e do uso de estruturas pré-moldadas. Quanto mais conseguirmos fabricar componentes fora do canteiro, melhor será a produtividade e menor será a dependência de trabalhadores escassos”, explicou.
Além disso, a HTB tem apostado na capacitação interna. “Estamos criando ‘escolinhas’ dentro dos próprios canteiros para formar novos profissionais. Também temos trabalhado para oferecer melhores condições de trabalho, com foco na segurança e no bem-estar dos funcionários. Hoje, reter talentos é tão importante quanto atrair novos trabalhadores”, acrescentou.
O executivo também mencionou a concorrência com outras atividades, especialmente em regiões como o Nordeste. “Em algumas épocas do ano, perdemos trabalhadores para o comércio sazonal, como o Carnaval. Muitos pedem demissão para vender produtos na praia e depois tentam voltar. Esse é um desafio que precisa ser considerado nas estratégias de retenção de talentos”, concluiu.
A apresentação da HTB pode ser conferida na íntegra clicando aqui.
Expectativas para o ENIC 2025
No encerramento da reunião, Ilso Oliveira reforçou o convite para o 100º Encontro Internacional da Indústria da Construção (ENIC), que acontecerá de 8 a 11 de abril, em São Paulo. “O evento será uma grande oportunidade para debater inovação, mecanização e inteligência artificial na construção civil. Vamos discutir a utilização de equipamentos não tripulados e como essas tecnologias podem reduzir a necessidade de mão de obra nos canteiros. Contamos com a presença de todos para fortalecer esse debate”, finalizou.
O evento, promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), é o principal encontro do setor da construção civil no Brasil, reunindo grandes líderes e profissionais para discutir inovações, tecnologias e os caminhos para o futuro do setor no país e no mundo.
Neste ano, o ENIC será realizado novamente em conjunto com a Feira Internacional da Construção Civil (Feicon), o maior evento do gênero na América Latina, que reúne profissionais da construção civil e arquitetura. A realização simultânea dos dois eventos potencializa a experiência dos participantes, criando uma sinergia entre debates estratégicos, apresentação de soluções inovadoras e as principais tendências do mercado.
As inscrições para o Enic são gratuitas e podem ser feitas através do site oficial do evento.
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