Artigo: Falando do futuro da construção

José Carlos Martins, presidente do Conselho Consultivo da CBIC

Entendo que uma das principais funções das entidades empresariais é agregar pessoas com interesses comuns e estimular a troca de informações. Todos nós, que participamos ativamente das associações, sabemos o quão importantes são essas trocas e o quanto nos tornamos melhores ao assimilar novas informações.

Nossa visita ao IBS, www.buildersshow.com, foi mais uma ação desse tipo. Esse evento, realizado em Las Vegas neste ano e que ocorrerá em Orlando no próximo, é a grande vitrine da construção nos EUA. Em seus diversos pavilhões, apresenta as principais inovações do setor e oferece um panorama global da indústria. O formato da feira é vertical, reunindo todos os elos da cadeia da incorporação: empreendedores, projetistas, corretores, fabricantes e outros profissionais.

Fomos em um grupo com mais de 20 pessoas, com o apoio institucional e organização das visitas técnicas pela CBIC. Através da entidade coirmã americana National Association of Home Builders (NAHB) e da International Housing Association (IHA), tivemos a oportunidade de  encontros com pessoas dos EUA e dos países participantes do IHA.

Constatamos que os desafios do setor ao redor do mundo são muito semelhantes. Embora estejam em momentos históricos distintos, compartilham a mesma essência: a necessidade de integração com a comunidade, o aumento das exigências regulatórias, a escassez de mão de obra qualificada, o alto custo dos insumos e a crescente demanda dos compradores. Tudo isso ocorre sem a devida contrapartida de aumento nos preços de venda, limitados pela renda da população, este é o grande desafio que teremos pela frente: compatibilizar o aumento de custo com a estabilidade do poder de compra.

Durante a visita, conhecemos a empresa responsável pela Casita (www.boxabl.com), um empreendimento ligado a Elon Musk, que tem a ambiciosa meta de solucionar o problema da habitação mundial. Também visitamos empreendimentos voltados para o público 55+, desenvolvidos para atender às necessidades dessa faixa etária, eliminando estruturas como “parquinhos” e priorizando espaços mais adequados ao seu estilo de vida, além de usar a locação como carro chefe. Além disso, estivemos em um dos maiores escritórios de arquitetura do mundo, www.gensler.com, onde discutimos os desafios do setor e as soluções implementadas para superá-los, principalmente pelos aspectos de mudanças climáticas, e como serão as cidades no futuro.

Fica claro que a indústria da construção, tanto no Brasil quanto no exterior, não avançou tecnologicamente na mesma velocidade que outros setores da economia, como o agronegócio, a indústria química, a medicina e a indústria automobilística. Esses segmentos evoluíram significativamente nas últimas décadas, enquanto a construção ainda enfrenta desafios estruturais.

O contato com especialistas internacionais nos fez perceber o quanto precisamos e devemos avançar. A escassez de mão de obra pode ser o grande divisor de águas: muitos trabalhadores da construção não querem que seus filhos enfrentem as mesmas condições que viveram. Isso nos obriga a repensar o modelo de construir e pode representar uma grande janela de oportunidade para o Brasil. Por estarmos mais defasados em relação a outros países, temos o potencial de nos reinventar mais rapidamente.

Como falou um membro do grupo, assíduo em vários eventos internacionais “a industrialização da construção é uma questão mal resolvida no mundo”, e concordo totalmente. Um exemplo claro disso foi um empreendimento que visitamos, no qual o cronograma médio de execução, do típico produto deles, passou de 12 para 18 meses. Imaginem o aumento de custo! Esse ponto é crucial quando falamos de baixa renda, nosso principal produto atualmente.

Provoco esta reflexão para que possamos trilhar juntos esse caminho inevitável. Aqueles que compreenderem a importância dessa transformação prosperarão; quem não se adaptar ficará para trás. Para trilhar esse caminho, é preciso rever normas técnicas, modelos de financiamento, enxergar a inovação com uma nova mentalidade, abandonando a percepção de que é porta para superfaturamento, apostar na capacitação de todo o ecossistema, aproveitar a
reforma tributária como grande indutor da industrialização. A mudança é inevitável e precisamos ser protagonistas nesse processo. Muitas oportunidades estão se abrindo.

Pelos próximos dois anos, a Presidência do IHA será do Brasil, sob a liderança de Mariana Ribeiro (mariana@grunarq.com.br). Vamos aproveitar para potencializar a troca de informações.

A sorte está lançada!

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