Primeira sul-americana a assumir a presidência da International Housing Association (IHA), a arquiteta e urbanista Mariana Ribeiro Martins se prepara para articular respostas globais para desafios que estão à mesa de entidades representativas da indústria da construção e tiram o sono de empresários dos seus diversos segmentos no Brasil e no mundo. Representante da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) na instituição, ela acaba de ser eleita pela unanimidade dos associados da IHA, para um mandato de dois anos: emblemática, essa conquista acrescenta nova camada à influência da entidade nacional do setor, reforçando a importância da construção brasileira no cenário internacional.
Mariana é arquiteta e urbanista e construiu sua carreira profissional especializando-se em planejamento urbano e construção voltada ao interesse social, trabalhando no Brasil e países da Europa. Ela se aproximou do associativismo por influência do pai, José Carlos Martins, ex-presidente da CBIC e atual presidente de seu Conselho Consultivo. Dedicando-se à entidade nacional, Mariana passou a colaborar com a representação internacional e seus passos a levaram ao comando da IHA. Nessa entrevista ao CBIC Hoje ela conta um pouco de sua história e avalia a contribuição que a entidade brasileira pode levar a seus congêneres globais:
Você é arquiteta e acaba de ser eleita para presidir a IHA. Conte a sua história: o que te levou para a arquitetura, onde se formou, como construiu sua trajetória?
M.R.M – Fui criada visitando obras, sempre acompanhando a construção e a transformação dos espaços ao meu redor. Esse ambiente foi parte do meu dia a dia e, desde cedo, me apaixonei por como a arquitetura transforma cidades e impacta a vida das pessoas. Foi essa vivência que me levou a escolher a arquitetura como profissão. Me formei na Universidade Federal do Paraná (UFPR), e durante a faculdade, tive a oportunidade de fazer um intercâmbio no Karlsruher Institut für Technologie (KIT), na Alemanha, o que ampliou minha visão sobre a profissão. Além disso, me especializei em Iluminação de Espaços Urbanos pela Politécnica da Catalunya (UPC), em Barcelona, e fiz mestrado na UFPR, com foco no Desempenho Térmico dos Edifícios. Ao longo da minha carreira, trabalhei tanto com planejamento urbano, em projetos como os planos diretores no litoral sul de Santa Catarina e Paraná, como também com projetos arquitetônicos institucionais e de interesse social na Alemanha. Hoje, sou fundadora da GrunArq, onde busco sempre integrar soluções que atendam às necessidades das comunidades de maneira sustentável e inovadora.
Além disso, desde 2017 sou representante da CBIC no GT Edificações do Ministério de Minas e Energia. Em 2023, comecei a coordenar o Grupo de Trabalho para Habitação de Interesse Social da IHA e, agora, assumi a presidência dessa organização.
Como se aproximou do associativismo do setor da construção e que caminho te levou à representação da CBIC nos fóruns internacionais de que a entidade participa?
M.R.M. – Me aproximei do associativismo através do meu pai, José Carlos Martins, que sempre teve esse espírito de crescimento em equipe. Essa é uma característica marcante dele. A convivência com essa realidade sempre me abriu os olhos para os desafios que temos em comum, me mostrando que se eu me indigno com algo e vejo isso no meu colega também, talvez juntos conseguimos algo melhor. Entrei na IHA, colaborando com a CBIC para auxiliar nas questões de meu conhecimento, em que pudesse agregar algo ao setor. Havia na época um desafio, pois as reuniões eram feitas por telefone com representantes de todos os países e nos mais diversos fusos horários. Minha fluência em inglês também foi muito útil. Eu participo individualmente de outras associações internacionais, por isso, me disponibilizei a representar a CBIC e desde então me engajei nas discussões.
A IHA foi uma associação global de muita importância durante a pandemia, as reuniões virtuais e a intensa troca de informações durante o período sustentaram muitas das iniciativas que levamos ao governo brasileiro à época. A nossa intensa participação foi reconhecida com a coordenação do grupo de habitação de interesse social e agora com a presidência.
Você foi eleita presidente da IHA pela unanimidade dos votos dos associados e tornou-se a primeira sul-americana a alçar esse posto. O que significa pra você esse mandato e quais as pautas da sua gestão?
M.R.M.. – É uma grande responsabilidade e honra representar a CBIC e o Brasil na IHA. A representatividade da associação é enorme, pois ela é fruto do interesse da associação americana, a National Association of Home Builders (NAHB) em outros mercados. Isso mostra que a troca de informações e negócios entre os países tem se mostrado cada vez mais importantes. O objetivo desses próximos anos é expandir o número de membros do IHA criando uma rede cada vez maior. Além disso, aumentar o intercâmbio estruturado de informações e dessa forma gerar negócios entre os países membros da Associação.
Olhando para a construção brasileira, qual a importância de a CBIC assumir essa posição?
M.R.M. – Precisamos conectar a construção do Brasil ao resto do mundo. Existe um mercado enorme a ser explorado, oportunidades tanto de saída quanto de entrada de investimentos que precisamos entender. Precisamos aprender sobre as diversas tipologias que existem e como os diversos mercados da habitação se desenvolvem. Do ponto de vista institucional, acredito que essa representação nos próximos anos consolida a CBIC como a grande representante do Brasil internacionalmente, realçando que possuímos uma instituição forte e organizada, que gera dados e informações de extremo valor para os nossos associados. A CBIC tem como objetivo representar o Brasil nacional e internacionalmente e estar à frente do IHA é coerente com a nossa missão.
É importante mencionar que a CBIC transforma seus associados em instituições melhores. A nossa forte representatividade, tanto pelo número de associados diretos quanto empresas ligadas, transforma a troca de experiências em algo extremamente rico e o que a CBIC é capaz de fazer com isso é incrível. A busca pela resolução dos desafios e conflitos, sempre de uma maneira coerente e eficaz, através de informações consolidadas, foi reconhecido pelo IHA. Em todas as reuniões do IHA conseguimos demonstrar tanto os nossos desafios quanto as oportunidades existentes no Brasil e isso é muito valioso para o setor como um todo.
A IHA é um grande fórum global de discussão e estímulo ao desenvolvimento da habitação. Como você avalia o cenário brasileiro – desafios e oportunidades? Que contribuições a CBIC pode levar para os integrantes da IHA?
M.R.M. – Nós já compartilhamos diversas iniciativas brasileiras de sucesso, tais como o programa Minha Casa, Minha Vida, a ação cooperada sobre vícios construtivos, o projeto Elas Constroem, além de outras iniciativas interessantes nos nossos Códigos de Obras relacionadas às mudanças climáticas. Antes de assumir a presidência, eu já era a coordenadora do Grupo de Habitação Social do IHA. Acredito que justamente por essa participação ativa fomos nomeados para a presidência da instituição. Podemos contribuir muito na troca de informações e na divulgação do nosso mercado para os demais membros.
O Brasil é uma terra de oportunidades e apesar de nossos desafios, um excelente lugar para negócios quando comparados a países de mesmo grau de desenvolvimento. A nossa demanda é enorme, e quando se compara com países com queda de crescimento populacional, expandir a operação para o nosso país parece algo interessante. Quando quebramos essas barreiras e entendemos que existem diversos desafios em comum, vejo que a CBIC pode ser um grande impulsionador dessa iniciativa através da IHA.
Quais os temas mais importantes na agenda global da habitação e que experiências o Brasil pode absorver para fomentar avanços na garantia de moradia digna à população?
M.R.M. – Existem diversos pontos em comum que percebemos ao longo dos anos participando da IHA. Entre eles, o principal desafio global é o acesso das famílias à moradia, a chamada afordabilidade. O que percebemos é que não importa o local ou nível de desenvolvimento do país, essa é uma questão intrínseca ao mercado habitacional global. Entenda que esse é um problema maior do que a pura habitação de interesse social, essa é a dificuldade de pessoas de classe média acessarem a moradia compatível com as suas necessidades e estilo de vida. Nos últimos anos têm-se percebido um enorme descolamento do valor da construção com a renda da população, novamente, em todos os países, não importa o nível de riqueza ou desenvolvimento de seu povo.
Entre os maiores desafios em comum estão a mão-de-obra disponível cada vez menor, o valor de importação de materiais de construção e todas as regulamentações que somos submetidos cada vez mais restritivas. Todos esses são desafios comuns, que buscamos na IHA, seja em forma de troca de informações, seja na forma de produção de manifestos para apresentação aos nossos representantes, solucionar aos poucos.
Por fim, na IHA estão representantes de grande parte das maiores economias mundiais e a busca pela industrialização da construção é um assunto recorrente. A troca dessas informações e de iniciativas relacionadas ao assunto nos faz acreditar que participar da Associação é estar a frente das grandes novidades que existem e desse desafio ainda não solucionado.
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